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fico suspenso na expectativa

de um pensamento que rasgue o tempo

e me traduza o sonho das árvores



quarta-feira, 25 de abril de 2012

ESTÉTICA DA FRAGILIDADE

Em ti
a vida

ancorada
num arco

invertido
exteriorizado útero

na estética protectora
da fragilidade


JCE 04/2012



ESPERA ENCALHADA

Aguardas
o fim da espera encalhada
no leito da tempestade

e no abraço das areias
sonhas
os oceanos alterosos

do teu desejo
onde desabam todas as águas
sublimadas pelas lágrimas do mundo


JCE 04/2012



O SONO E O SONHO

(com a devida vénia a Ovídio)


1. Hypnos

a noite espalha-se
tecendo escuridão
o espírito absorve-se na luz negra
e apaga-se


2. Morfeu

a caverna esconde o ébano
onde repousas
na sugestão das flores
que não vislumbras


JCE 04/2012



quarta-feira, 4 de abril de 2012

INVENTEI-TE AS MANHÃS


Arrastam-se as horas ao longo do dia,
cansadas da eternidade,
e eu anseio o momento em que a tua silhueta
invade a minha paisagem,
num contraponto inadvertido e inocente...

Saberás tu ao certo o que provocas em mim?

Poderia mostrar-te de quantas maneiras te quero,
desenhando o êxtase das madrugadas
no teu corpo fremente
e recitando os sabores dos teus beijos
na loucura da pele

Poderia dizer-te de quantas maneiras te amo
rebuscando as palavras que os poetas criaram
e adornando as metáforas que a inspiração gerou

Poderia criar tanta forma de amar, que um dia
talvez entendesses
a minha vontade de inventar as manhãs
na suave carícia do teu despertar


JCE 04/2012


NAS MARGENS DO ENTARDECER


Procurei-te...
nas horas que se cruzaram em avanços e recuos
nos silêncios e clamores que povoam os meus dias

O sabor almiscarado da tua pele
povoa-me as memórias do presente
como um momento intemporal
que se alojou
nas planuras da minha alma

O crepúsculo foi inundado pelo aroma dos teus cabelos
esvoaçantes
numa dança ritmada pelo fluxo da maré

Junto a ti
nas margens do entardecer
quero reter o fragor das ondas do mar
perto de mim
perto do sonho
de ti em mim


JCE 04/2012


quarta-feira, 21 de março de 2012

RETORNO

Chego de viagem
empresto-me uma almofada de sabores almiscarados
entranhados nas memórias que regressam
de viagem
partilhada
com o tempo que ausentei

O sofá do desencanto abate-se no meu peso
aspirante de sossegos conquistados
na viagem

Num retorno de encobertas paisagens enlutadas
de rumos encetados sem bússolas
de derivas consentidas, ansiadas
chego como parti
sem certezas
sem alívios
sem palavras

Igual


JCE 03/2012