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fico suspenso na expectativa

de um pensamento que rasgue o tempo

e me traduza o sonho das árvores



quarta-feira, 2 de março de 2016

MORTALHA


A noite cansada
baixou os braços, por fim
subjugando-se rendida
à alvorada cinzenta
que a aconchegou...
numa mortalha de luz



João Carlos Esteves
in "Gotas de Silêncio"
(Editora Temas Originais, 2011)

(Imagem obtida na página do Facebook "Fine Art Tokyo")




terça-feira, 1 de março de 2016

DESPOJOS DE DESENCANTO


cai o pano
as aves silenciam-se

observam os despojos
do desencanto

novelos de vida
tenuemente ligados
à redoma que me sustém

.

o resto

são cicatrizes e trapos

João Carlos Esteves
in "Inventei-te as Manhãs"
(Chiado Editora, 2013)

(Imagem obtida na página do Facebook "Fine Art Tokyo")



sábado, 27 de fevereiro de 2016

EM PLÁGIO DE VIDA


tudo o que existe para além da luz
pertence a um reino onde a verdade
nasce do plágio inconsciente.

a força da palavra está no acto que a insemina,
na consciência que a transforma e na paixão
que a apropria.

é no ocre da folha solta
que impera o sentido da árvore



João Carlos Esteves
in "Ausência de Margens"
(Edita-Me Editora, 2015)

(Imagem: Pintura de Luìs Liberato)



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

RENASCER


podia dizer-te
que os dias se esqueceram de nascer
mas o orvalho das manhãs não desiste da folha verde
e as águas do rio
não se cansam de embalar as barcas

podia dizer-te
que a vida se ausentou
mas o vento continua a atear as labaredas
e o som do mar
continua intenso no meu peito...

... a chuva regressou
e com ela a vontade de renascer



João Carlos Esteves
in "Marginália", antologia poética (Edita-me Editora, 2015)
in "Ausência de Margens" (Edita-Me Editora, 2015)



terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

INCONSTÂNCIA


Há palavras que nos surpreendem pelos significados quase antagónicos que assumem.
Esta, que figura como título, é uma delas.

Senão vejamos.

Significado de Inconstância

n.f.
1. Ausência de constância;
2. Prontidão ou facilidade em alterar ou modificar os seus pontos de vista, atitudes, pensamentos ou emoções; do mesmo significado de leviandade ou instabilidade;
3. Característica daquilo que se encontra vulnerável a mudança;
4. Flexibilidade ou versatilidade."

(in "www.lexico.pt")


É mais ou menos comum pensar-se em Inconstância como algo que pode ser caracterizado por qualquer uma das três primeiras definições do termo que são apresentadas acima, todas elas de pendor ético-moral razoavelmente negativo.

Já a caracterização de "inconstância" como "Flexibilidade" ou "Versatilidade" é pouco comum. Ou, pelo menos, não será tão comum.

Nesta perspectiva, de vermos a inconstância como sinónimo de flexibilidade ou de versatilidade, será linear a aceitação da característica como algo de desejável e, nalguns casos, algo de louvável. Pelo que, ao apelidar-se alguém de "inconstante", dependendo do contexto e da compreensão do termo por quem seja dele alvo, o mesmo assume um carácter elogioso. 

Atente-se, por exemplo, nalguns ambientes sócio-profissionais, onde a versatilidade e/ou a flexibilidade são requisitos bastante comuns para a aceitação da pessoa como membro do grupo ou da organização. 
Seria interessante ver um anúncio de recrutamento onde se pedisse como característica pessoal a "inconstância". Algo do género... "os nossos colaboradores devem ser dotados de elevada capacidade comunicacional, de características adequadas para trabalho em equipa e também serem dotados de um elevado grau de inconstância"... 

A menos que seja um anúncio de recrutamento para cargos políticos ou governamentais, não me parece que a moda pegue...

Bom, o facto permanece. Todos nós somos dotados com uma certa dose de inconstância. Resta saber é qual dos quatro significados possíveis a retrata melhor...


João Carlos Esteves
23/02/2016




 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

AUSÊNCIA DE MARGENS


inspiro amanheceres impolutos
marcados
pelo silêncio de caminhos vazios

há uma ausência de margens
e um desencontro de veredas quebradas
nesses trilhos
que se propagam em luz imemorial.

intencionalmente
fecho-me ao tempo
e às memórias da luz.



João Carlos Esteves
in "Ausência de Margens"
(Edita-Me Editora, 2015)

(Imagem de José Luís Outono)

domingo, 21 de fevereiro de 2016

ASPIRAÇÃO DE HORIZONTE


tenho nas mãos
a poeira do desassossego.

aspiro a ser horizonte…


João Carlos Esteves
in "Ausência de Margens"
(Edita-Me Editora, 2015)

(Imagem de Armindo Ferreira)


DEMORADAMENTE


em cada madrugada a terra inventa-se
na demanda dos sabores de sal
e aromas de citrinos
que o toque da tua pele revela

nem na pureza do discurso das águas
se transcreve perfeição
como aquela que o teu corpo inspira...

contemplo-te
demoradamente
com uma fome submissa e insaciável
pois não há nada em ti que seja breve


João Carlos Esteves
In “Ausência de Margens”
(Edita-Me Editora, 2015)

(Imagem de Trid Estet)


A CASA DOS VENTOS


somente através dos teus olhos
era possível ver
a luz que saciava a sede de existir,
naquela imagem
nascida de um desejo que era sonho,
de um quase nada que era tudo

e era entre fiapos hesitantes de luz
que se revelava a casa dos ventos,
estuário de nuvens
e ancoradouro de voos imensos


João Carlos Esteves
in "Ausência de Margens" (Edita-Me Editora, 2015)

sábado, 2 de maio de 2015

MARGINÁLIA... "coisas que estão à margem"

Dez autores...
Dez sensibilidades...
Dez formas de sentir e fazer poesia...

MARGINÁLIA...

Lançamento a 30 de Maio de 2015 pelas 15h00
na Fundação José Saramago, em Lisboa

https://youtu.be/udS-jKwT6jg